01 agosto 2014

Carta do Editor - Mês #3 Cultura

No denso meio das palavras polissêmicas, a palavra cultura é de longe uma das mais complexas. Por este motivo, conceituá-la é um papel muito difícil, quem sabe, impossível. Um grupo de antropólogos em um estudo listou pelo menos 167 definições diferentes, e com certeza não conseguiram extrair toda essência deste termo. Pelo menos, uma coisa pode se saber com veemência, cultura vem do latim colere, significa cultivar.

Decerto, isto pode estar parecendo um papo chato, que só faz mostrar a grande abrangência de um tal termo que muitos tão nem ai para o que seja. Porém, muitas vezes, quem diz isso não se dá conta de que ele é um ser cultural, afinal, todos nós somos. Mesmo que seja contracultura, esta é sua ideologia, desencadeando na cultura. O que precisa ser quebrado é a impressão de algo intelectual quando falo que somos "seres culturais". Confundem cultura com cognitivo científico.

Produzimos cultura o tempo todo, no dia-a-dia, só que não nos damos conta. Cada um de nós é uma variante, diferente de todas os outras. Porém, somos iguais por sermos seres humanos, com anseios e necessidades instintivamente iguais. Isto nos põe em uma condição de desierarquização e que a crença na cultura nos leva: fundir a diversidade em uma unidade.

A verticalização intelectual, por vezes atrapalha o enriquecimento cultural. O que se produz fica muito preso a regras que não são nossas. Trazendo um exemplo próximo aqui a mim, Santo Amaro - BA, a harmonia imposta pela música acadêmica, não convinha com o jeito que os violeiros do Recôncavo Baiano, que tocavam "de qualquer jeito" e fazia o violão um instrumento de percussão, muito mais valorizado.

Não existe cultura melhor ou pior, ninguém tem mais cultura que o outro. Não é algo quantitativo, tampouco qualitativo. É necessário uma harmonia entre razão e imaginação. O hemisfério esquerdo do cérebro, relacionado ao pensamento analítico, calculista e racional; com o hemisfério direito do cérebro, relacionado a intuição, criatividade e imaginação.

Quando se diz em preservar valores históricos-culturais no mundo atual, por parte imediatista, é um desafio. Para termos orgulho do que é nosso, é preciso conhecer sua história. Este é um dos grandes perigos de viver num mundo dito globalizado. Portanto não dão relevância, por que não conhecem sua história e real valor. Tem vezes que conhecem mais sobre uma outra cultura e não vivenciam a própria. Estão preocupados com progressos profissionais, econômicos, e não sabem o que foi construído ao decorrer do tempo organicamente e que enriqueceria sua vida de modo substancial.