28 julho 2014

Somos todos homofóbicos


Preconceito é algo que todos nós temos, sendo parte ou não da comunidade LGBT. Querendo ou não, estamos sempre julgando, pois faz parte de nossa natureza enquanto homens em sociedade, definir através de uma linha imaginária e variável, o certo e o errado, o bom e o ruim, e quem se enquadra nela.

Um fato interessante e intrigante e em contraponto deplorável, é a influência implacável e consentida que a sociedade heteronormativa exerce na denomida comunidade LGBT, a qual faço parte. Veja, esta que a tantos anos tenta de certa forma se separar da sociedade e lutar pelos nossos direitos – que é claro, acho digníssimo -, comungam em sua convivência, talvez pela forma como fomos criados ou burrice mesmo, hábitos em essência de uma sociedade heteronormativa, em que o macho-alfa que permeia o imaginário das mulheres e dos gays, é um ser alto, másculo, viril, com definição corporal invejável,dependendo do seu gosto, feições nórdicas e até alado a um cavalo branco.

 Não importa mais como somos: gordos, feios, bonitos, arrumados, jovens, velhos, brancos, africanos, asiáticos ou o que for, esse Macho-alfa, ou melhor, pra nós, gay-alfa, é a única opção de parceiro aceitável para felicidade, contanto que seja ativo, é claro. Pois por influencia dessa sociedade em que estamos inseridos, o ativo é o “homem”, é o macho, o que controla, o que impõe, que todos gays estão esperando, para que seja atingido um nirvana multi-orgásmico, após muito sexo – é claro, novamente.

E uma busca por esse Adônis perfeito, muitas vezes habitado apenas em filmes pornô, é iniciada através de festas e boates ou aplicativos, tais como o Grindr, Scruff, Bender. Uma busca infinita, já que esse modelo é raro, já pendendo a extinção, e quando achado, normamente danificado, não no corpo, mas no cérebro, seres sem o menor senso critico, cultura ou informação, que idolatram a beleza excessiva, com a mesma idolatria que lhes é idolatrado como um ser divino.

Dessa idolatria, germina o preconceito. Tudo que foge desse padrão é inaceitável do que aprendemos ser bom da sociedade heteronormativa. Portanto gays que são efeminados, sendo passivos ou não, são marginalizados quando se fala em ter um relacionamento firme, em que há a possibilidade concreta de ser apresentado formalmente à família, pois a lei é: quanto mais feminino você é, menos valor tem.

Voltando ao conceito primordial de que homofobia é a repulsa ou preconceito ao homossexual, nós gays também somos homofóbicos, principalmente quando falamos de forma pejorativa “a passiva”, caindo no pensamento primitivo e subconsciente de uma sociedade de raízes heteronormativas arcaicas, de que a mulher é inferior e ao fazer essa comparação, logo, o gay passivo é inferior.

Somos preconceituosos o tempo todo com nós mesmos, não nos dando a chance de nos abrir, nos conhecer, nos permitir, em não olhar pro lado e julgar menos a aparência, é claro que a aparência é o primeiro fator de atração, mas observar no outro as qualidades que ninguém quer ver, os hábitos, os costumes, os gestos e comportamento que nós faz únicos e multifacetados é importante para todas as relações.

Deveríamos nos unir e mostrar uma verdadeira comunhão pra além das baladas e noitadas, mas uma cumplicidade como seres humanos que somos – ou deveríamos ser. Parece clichê, mas fica aqui a máxima disseminada por Jesus, amai ao próximo, como a ti mesmo, afinal, esse Adônis provavelmente não irá aparecer tão cedo!