25 novembro 2014

Velha a mente, criança o espírito


"Os meus olhos já não são os mesmos de antes: uma borboleta é só uma borboleta, uma formiga é só uma formiga e uma poça de água é só uma poça de água. Saudade de quando tudo isso era poesia, tudo isso era mais belo e o sentido denotativo não importava tanto: as coisas eram o que eu queria que elas fossem. Talvez um dia meus olhos voltem a enxergar vitrais em cebolas, garotas chorosas em velas, lentes em gotas d’agua, janelas em olhares e coisa tal. Talvez um dia eu desaprenda minha velhice dos quase catorze e vá virar poeta e escrever sobre as coisas que os adultos de espírito não vêem, não sentem, não cheiram, não ouvem, não tocam. Não sei se vale a pena ser um adulto de espírito, ser elogiado pelo cargo, pela casa, pelos diplomas… Quero ser criança de espírito por toda minha existência, com palavras mal colocadas, caligrafia confusa e os olhos de poeta. Quando um espírito adulto enche os olhos, é porque estes viram ouro, belas jóias, roupas de grife e casas de praia. Quando um espírito de criança enche os olhos, é porque viu amor, palavras bonitas, pôr-do-sol, espuma do mar, flores de ipê. Quero estudar a sinuosa anatomia da minha alma e descobrir se o espírito que guardo nesse ser recheado de carbono é pueril e curioso ou adulto e saciável."