02 setembro 2014

Carta do Editor - Mês #4 História

A História, como ciência que analisa o homem e indivíduo e ser social com enfoque em seu desenvolvimento no tempo, não apresenta uma maneira única e definitiva do que aconteceu. Um mesmo fato histórico pode haver várias interpretações ao longo do tempo, sendo construída com informações que têm autores e intenções distintas. As maneiras de olhar para o passado mudam de acordo com o presente, constantemente sendo atualizado.

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No século XIX, se tinha uma historiografia totalmente limitada a interesses políticos e da classe dominante. Só eram aceitos documentos oficiais e outras formas de tentativa evidenciar um fato foram ocultadas, desimportando as outras civilizações e culturas, sem a possibilidade de ampliação do campo de problematização.

Esta concepção foi mudada com o desenvolvimento da Ciência, e hoje, já se tem inúmeras possibilidades de fonte histórica. Fotografia, pinturas, relatos orais, livros literários, utensílios do cotidiano, monumentos, objetos, e dentre outros. Há muito mais liberdade, podendo dar a mesma atenção aos fatos que aconteceram, principalmente aqueles que fluíram de forma orgânica.

Pensando nisto e por ter participado no dia 30/08 do VII Recital de Poesia de Santo Amaro - BA, que nesta edição homenageara Zilda Paim, tive a ideia de compôr esta carta do editor com o tema História e não tratá-la somente como Ciência, e sim como artifício de grande valor para a sociedade em geral.

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Quem acompanha o blog ou leu as postagens mais precisamente do mês passado, pode perceber facilmente minha queda por esta cidade. Mas não é atoa não. Nesta falarei apenas de uma pequena parte (de grande valor) de Santo Amaro, que foi Zilda Paim e sua importância para história e formação intelectual.

Zilda morreu ano passado, infelizmente não pude conhecê-la. Na época não conhecia direito seus feitos, tampouco quem foi, mas sabia que era um nome de grande importância. De forma sintética, foi educadora, folclorista, pintora e historiadora.

Revelou que sempre teve curiosidade sobre as coisas da cidade e sentia ciúme de ter passado a vida toda lendo sobre a história de outros lugares e não tinha muito como saber sobre Santo Amaro."A curiosidade é a verdadeira alma da civilização" (Machado de Assis). Por conta disto, passou a recolher informações, catalogar e documentar qualquer coisa que achava importante.

Professora por mais de 50 anos, especialista de renome internacional em maculelê, foi a primeira mulher Presidente da Câmara de Vereadores e tem um quadro da Prefeitura e da Igreja Matriz de Santo Amaro exposto em uma galeria em Nova Iorque. Se dedicou muito ao folclore e em suas aulas, tratava de temas bastante questionadores, isto por volta da metade do século passado, época marcada pelo conservadorismo. Progresso, escravidão e preconceito, cultura e arte, dentre outros.

Não fez faculdade de Belas Artes, nem de História, porém é tratada como pintora e historiadora. "Os amores na mente, / As flores no chão. / A certeza na frente / A história na mão". (Geraldo Vandré). Portanto, sem este conhecimento da história, seja como Ciência ou como abstração, a humanidade estaria alheia a qualquer coisa. Não se deve deixar para trás e achar irrelevante a cúpula cultural construída pelo tempo.
[Imagens retiradas do blog Zilda Paim]