Pra quem não conhece, Apropriação cultural é quando uma cultura usa aspectos de outra como acessórios à sua, num sentido bem resumido. Isso significa que tanto o contexto quanto o significado daquilo que você se apropria são descartados quando isso acontece. Sabe quando novelas como O Clone e Caminho das Índias fizeram sucesso e do nada aprendemos vários bordões que teoricamente seriam como esses povos falavam e consumimos vários produtos relacionados à essas novelas, em vestuário e decoração, sem saber direito se era assim que eles se vestiam ou decoravam nesses países, e muito menos sabendo o significado disso ser usado ou em qual contexto era usado? Então, isso é que é apropriação cultural.
"O que há de errado nisso?", você pode pensar. Para responder, posso usar um dos casos mais antigos de apropriação cultural conhecido. Durante a primeira metade do século XI até a primeira metade do século XX, no teatro e cinema americano, via-se a inserção da figura do negro nas narrativas. Mas, ao invés de atores negros nesses papéis, houve o que ficou conhecido como Blackface: literalmente, atores brancos pintavam a cara de tinta preta com bocas desenhadas como as de palhaço, gerando uma imagem vexatória e cômica da imagem do negro, ao invés de uma real representação.

O problema da apropriação cultural é que, ao tentar consumir uma cultura a partir de algo que não é dessa cultura, não temos visibilidade real das pessoas com essa identidade, e, ao invés disso, geralmente caímos em estereótipos. E todos nós sabemos bem como estereótipos podem afetar nossa sociedade: quem tá de fora associa essa ideia como a real sobre aquele grupo, ao passo que quem tá de dentro se sente limitado pelas ideias. É só lembrar de como a gente se sente como a gente é estereotipado pelos gringos, como no caso do episódio dos Simpsons ou daquele filme de terror "Turistas". Por que diabos então achamos que temos o direito de fazer o mesmo com a Índia?
Estereótipos, porém, vão além, porque eles se acumulam ao longo do tempo, formando as histórias únicas, que são hoje em dia grandes limitadores de vermos o mundo como ele é, e grande construtores de censo comum, no sentido negativo da palavra mesmo. Esse aliás é o tema de uma das palestras do TED da Chimamanda Adichie - particularmente um dos meus ídolos atuais (♥), que é obrigatória para a vida, e por isso mesmo não vale a pena ficar me extentendo no assunto, e sim que você veja o vídeo.
O filósofo Richard Rorty diz que "O processo de começar a ver seres humanos como 'um de nós' ao invés de 'eles' é, principalmente, uma questão de descrição detalhada de como pessoas não-familiares são e uma redescrição sobre como nós mesmos somos.". As histórias - junto com objetos, músicas, comidas e expressões artísticas - podem ajudar nesse processo, mas claramente não se você tirar as pessoas e os significados delas. Desse jeito não temos cultura, e sim só uma carcaça sem nenhuma profundidade. E é preciso, de uma vez por todas, parar de confundir a carcaça com a cultura.